Sarcasmos

O mundo é sarcástico comigo. Bom, esperado, já que ele é meu e coelhos só parem coelhos. Mas vez ou outra esse sarcasmo ainda me pega desprevinido.

Hoje foi a vez da TV me provocar. Depois de um longo episódio de House e todos os seus “pessoas não mudam”, “somos o que somos” e “talvez, se Mozart fosse um pouco mais normal e resolvesse brincar de pega-pega, não tivéssemos A Flauta Mágica”, uma voz à Cid Moreira anuncia o filme da seqüência: Alfie, o Sedutor. Touché. Não quero ver. Curioso: é um filme que sempre me despertou certa atenção e interesse e que inclusive, acidentalmente, cheguei a petiscar uma cena ou outra, mas que por algum motivo nunca dei conta de comer inteiro. Talvez seja meu subconsciente gritando: PERIGO!

Acho que não quero saber como acaba…

Face it: quais são minhas opções? Consegui, nos últimos meses, assumir muita coisa minha para mim: não tenho vontade de casar, morro de medo de ficar sozinho, gosto de sexo com carinho tanto quanto gosto de sexo casual e, pra que me enganar?, não sou dado a longos relacionamentos. Mas, no fim, isso não foi o fim. Essa última epifania me levou a outros questionamentos tão pertubadores quanto – senão mais! Será minha vida eternamente levada na corda de um iôiô ou estarei eu fadado, inevitavelmente, à imoralidade?

Para entender, vamos acompanhar o padrão: estágio um – solteiro. Um homem da noite e da agitação, vida social intensa, atividade sexual em dia, produção artística vasta e longas noite em casa, oprimido pela carência. Ah, sim, o velho medo da solidão – que só não supera o medo de estar com alguém que não me esteja à altura. Até que aparece um cara que, seja pela carência alta ou por realmente valer a pena, me parece se encaixar em meu mundo – ou, se não, que ao menos desencadeia todos aqueles processos químicos da paixão. Seguimos para…

Estágio dois: acompanhado. Vida social mais moderada, programas caseiros apresentando freqüente acentuação da vida diurna, produção artística previsível, insossa e comercial e um estágio temporário de torpor e alegria, que logo é substituído pela angústia da liberdade cerceada e pela saudade do estágio um.

Vêem? Claro que ninguém, ao meu ver, é capaz de se bastar por completo… Mas eu supro sozinho boa parte. Não o suficiente pra evitar a carência e a vontade de ter alguém “to call my own” e que me esquente as noites frias ao som de Ani DiFranco, mas o suficiente para que eu não estruture minha vida em cima de uma relação ou de alguém – ou mais: o bastante para a vida a dois não ser, para mim, o bastante.

Resta o quê? A infedelidade? De fato, a possibilidade de ter ambos os estágios, um e dois, simultâneos, soa como uma solução assaz balsamizadora. Desde, claro, que eu não faça questão dos meu princípios. Relacionamento aberto? Bah, ainda sou humano. O quê, então?

Aberto a sugestões.

3 Respostas

  1. Blog novo vida nova e coragem de postar textos antigos hehe…

    Beijo Vi!

  2. Ainda não me deparei com a fórmula certa. Deve existir uma fórmula pra cada um, preparada nessas farmácias de manipulação (“manipulação” é irônica, não?), e não nas grandes drogarias.
    Numa conversa com um amigo, depois de constatar a “pessoa ruim” que sou, lembrando das imoralidades que já fiz, ele me respondeu que é questão de maturidade. Que, por mais que eu esteja tão ligada ao fato de desejar várias pessoas ao mesmo tempo, chega uma hora que, num mundo de bilhões, você encontra AQUELE ser que não vai te suprir de tudo, é claro, descontentes crônicos que somos, e que não vai te fazer parar de flertar e até desejar uma ou outra pessoa por aí, mas que vai te fazer parar por aí. Você simplesmente não leva adiante. Não leva o pensamento infiel para a realidade. Aconteceu com ele. Essa é uma fórmula. Só g-suis pode saber a nossa. hoho.

  3. A grande dúvida do ser humano… encontrar-se ao lado de alguém ou bastar-se… Acho que isso não tem resposta. Nunca estaremos satisfeitos. Se temos alguém, reclamamos falta de liberdade. Se não temos, reclamamos da carência e solidão nas noites mais frias. O ser humano não sabe ficar contente com o que tem, e sempre quer mais. Acho que faz parte da nossa natureza em constante estado de evolução. Para alguns, involução.
    Um dia você encontra a pessoa que acha que é certa. Dura dias, meses, anos, décadas? Mas um dia você acorda e pensa que raios aquela pessoa está fazendo do seu lado.
    Mas a vida é isso mesmo. É a arte de se arriscar em momento que te façam felizes. Sozinho, acompanhado, ou em momentos de pura molecagem.
    Pelo menos até aquilo tornar-se um tédio e a gente passar a buscar novas aventuras.

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